A importáncia da perspetiva de género na informaçom
Helena Embade
Se figermos um cômputo das vezes que se fai referência às mulheres nos meios de comunicaçom, temos que assinalar umha importante diferenciaçom: de umha parte, as ocasions em que somos protagonistas ao serviço do sistema patriarco-burguês e de outra nas quais se tratam aquelas questons que verdadeiramente atingem as mulheres.
O tempo já nos tem demonstrado que há situaçons que nom se revertem, e quando as mulheres somos notícia a causa do terrorismo machista nom é com a intençom de denunciar situaçom algumha. O certo é que este tipo de informaçons ainda som tratadas com absoluto desconhecimento, sem a mais mínima perspetiva de género e como se fossem umha notícia mais, um simples sucesso, e nom a lacra social que representam. No caso dos meios audiovisuais, o impacto é ainda maior, pois a informaçom vai polo geral acompanhada de imagens em que prima o morbo e o sensacionalismo.
Os meios de comunicaçom do sistema transmitem umha imagem parcial e distorcida do que hoje ainda definem como “violência doméstica”. No entanto, a realidade deixa clara qual é a situaçom e, como mostra, podo referir umha recente estatística a nível mundial que revela que 1 em cada 3 mulheres sofrem violência física ou sexual, à qual devemos acrescentar a violência que padecemos a totalidade das mulheres no dia a dia por estarmos submetidas a este sistema patriarco-burguês.
Ante este panorama, torna quanto menos incompreensível que os governos nom tomem determinaçons contundentes para pôr fim a esta situaçom que nom deixa de piorar com o passar do tempo. O patriarcado apoia-se nos próprios governos e nos meios de comunicaçom para se fortalecer, e estes pola sua parte atuam como meros transmissores dos ditames do patriarcado, dando continuidade à mensagem de dominaçom e o que é ainda pior, fomentando comportamentos abertamente machistas que, no caso da Galiza e do Estado espanhol, nem sequer som considerados agressons por parte do governo.
Cada dia é mais freqüente a distribuçom de material informativo em que o assédio sexual vai disfarçado de piada ou mesmo é suavizada por acontecer em contextos festivos.
Recentemente, vários jornais e televisons resenhavam as celebraçons do San Fermín, mostrando com total normalidade imagens teoricamente festivas de mulheres que estavam a ser assediadas por vários homens. Num primeiro momento, nem se chegárom a questionar a gravidade do que realmente estava a acontecer e nom foi até que o movimento feminista basco se manifestou ao respeito que se iniciou o debate, mas sempre de maneira “extraoficial”. Nom é por acaso que o que se tentou promover por cima doutras cousas foi a defesa da imagem das festas de San Fermín.
A internet e as redes sociais em particular estám a jogar um papel determinante na hora de difundir informaçom e, no caso da erradicaçom do machismo, infelizmente nom sempre colaboram com a causa. É tristemente habitual encontrar verdadeiras barbaridades em Twitter que fam clara apologia do terrorismo machista, ante a passividade de milhares de pessoas que no fim de contas toleram e aceitam “inocentes piadas”, ignorando o problema de fundo e perpetuando também de esta maneira o processo de assentamento e normalizaçom que vive o patriarcado na atualidade.
A visualizaçom da mulher como objeto sexual fai com que, no caso de um assassinato por terrorismo machista, a sociedade nom o considere um crime propriamente dito, quer dizer, com a mesma releváncia que poderia ter se a vítima fosse um homem. Além disto, sempre se questionam fatores como o tipo de vida que levava a mulher, as circunstáncias particulares, o estado mental do agressor e outros muitos tipos de desculpas e justificaçons pouco afortunadas e que, mais umha vez, desviam a atençom do verdadeiro foco do problema.
Um exemplo de grande alcance mediático a nível internacional foi o assassinato de ReevaSteenkamp. Para as que seguimos a imprensa internacional com freqüência, o bochornoso tratameto da notícia nom passou em absoluto despercibido, nomeadamente na já de por si sexista imprensa desportiva.
Fôrom muitas as lamentáveis justificaçons públicas de desportistas e pessoas achegadas ao assasino, o atleta Oscar Pistorius, que pouco a pouco conseguírom colocar-lhe a etiqueta de vítima, enquanto da verdadeira afetada, Reeva Steenkamp, quase nem se sabia nada porque afinal ela era simplesmente “a moça de” e, além do mais, nem sequer era famosa.
A fraqueza que apresenta a questom de género a nível internacional em comparaçom com outras questons, somada à crise sistémica do capitalismo e uns factores erroneamente considerados “culturais”, dificultam enormemente um avanço significativo a curto praço, mas ao meu ponto de ver há uns mínimos exigíveis que se devem levar a cabo sem maior demora.
Apesar da existência de decálogos de boas práticas na hora de transmitir informaçom destas características nos meios de comunicaçom, o certo é que pouco ou nada se percebe a este respeito. Isto deve-se em parte a umha clara falta de vontade por parte das e dos jornalistas, mas também devemos questionar a sua utilidade e legitimidade.
Som tempos em que o patriarcado está a ser reforçado e as feministas temos que procurar a maneira de incidir em todos os ámbitos da sociedade para evitar o seu avanço e conseguir que deixem de minimizar ou neutralizar as nossas reivindicaçons. Sem dúvida, os meios de comunicaçom som o instrumento ideológico de dominaçom por excelência e, por este motivo, devemos impedir que continuem a invisibilizar e a atrapalhar a nossa luita.
Sem pretender pôr em dúvida a profissionalidade e o compromisso de algumhas e alguns jornalistas, entendo que se fai mais necessário do que nunca que as mulheres fagamos parte de maneira ativa e demandemos que todas as publicaçons e materiais audiovisuais tenham um enfoque de género, sem esquecer o uso de umha linguagem inclusiva e nom discriminatória.
É momento de que os meios de comunicaçom fagam do verdadeiro problema a manchete e atuem como transmissores da visibilizaçom e denúncia de um problema que é inquestionável. A partir desse momento, será mais fácil para as mulheres difundirmos a nossa mensagem, a da construçom de umha sociedade justa e baseada na igualdade.
Corunha, 1 de agosto de 2013